&quot;Um Fórum sem amos&quot;<br />Jorge Cordeiro no &quot;Expresso&quot;

Não deixa de ser elucidativo que alguns se tenham revelado mais preocupados em alimentar uma campanha pública e a inundar os jornais de comentários e acusações dirigidas aos comunistas e ao PCP do que em dar conta do que o FSP poderia representar e do que nele se debateu. Os que assim optaram, desvendando naturalmente aquilo que os anima e as estratégias que prosseguem, foram de facto os que maiores prejuízos causaram à iniciativa e à sua imagem pública. Pena que alguns tenham pretendido ganhar em difusão de preconceitos anticomunistas o que à iniciativa fizeram perder em credibilidade, ligação à realidade nacional e alargamento da base social contra a política de direita.

Tanto seria bastante para não regressar à questão. Mas porque o tema voltou, por linhas tortas, ás páginas do Expresso pela mão de Nuno Ramos de Almeida, aparentemente em polémica com o que escrevi no Avante!, talvez se justifiquem três anotações.

Ao contrário do que seria expectável, Nuno Ramos de Almeida passa ao lado do essencial das questões que mais polémica geraram e mais no centro estiveram do que se disse e escreveu sobre o Fórum. Percebe-se o embaraço. Só voltando ao terreno da deturpação dos factos e das meias verdades se poderia contestar o que afirmámos e esclarecemos. Aliás bastaria ler o que o autor declarou a uma revista uma semana antes sobre o que a Assembleia dos Movimentos Socais iria ser, ou o que ele ou alguém já tinha decidido que fosse, ou o que um outro dirigente da mesma associação política a que pertence escreveu dias depois do Fórum, para se ver que aquilo que no Expresso afirmou não sobrevive um momento que seja aos critérios da verdade, do rigor e do respeito pela preparação democrática da iniciativa.

O PCP não é, não deseja e nem pretende ser ou apresentar-se como dono do Fórum. Salutar seria que outros o assumissem e não agissem a todo o momento sob o efeito da imensa ambição de liderança do chamado “novo movimento” na base da ideia de que a eles , e só a eles estariam depositadas as virtudes da condução da luta social e a capacidade de a resgatar do marasmo e inaptidão em que as forças e partidos revolucionários e de classe alegadamente a teriam lançado.

O PCP não quer nem pretende transformar o FSP na “retaguarda de uma qualquer vanguarda”. O papel e o lugar que o PCP ocupa na sociedade portuguesa e na luta provada de décadas não carece, nem encontraria no Fórum pela sua própria natureza, de qualquer prova testemunhal ou legitimadora. O que se perceberá, embora alguns não se conformem, é que o PCP se não disponha a atrelar-se ao que alguns unilateralmente projectaram ou a aceitar passivamente a atitude de alguns em tomarem como decidido o que previamente se haviam encarregado de fazer divulgar na comunicação social, tentando depois impô-lo a outros como facto consumado e agindo, mesmo depois de derrotados, como o haviam previamente determinado.

Passei, naturalmente, ao lado das afirmações insultuosas sobre os meus, e os do Partido a que pertenço, conceitos de democracia. Não só porque nada lhe temos a provar como seguramente, pela simples observação do que alguns patentearam na fase de preparação do Fórum, muito havia para lhes recomendar. Certo de que os “comunistas que honram as tradições”, designadamente aqueles que no seu Partido permanecem, saberão estar à altura das responsabilidade do que gerações de lutadores construíram.