Ao procurar explicação para as fotos de Abu Ghraib, a muitos terá ocorrido o contraditório universo moral da sociedade norte-americana, simultaneamente vivendo o puritanismo calvinista fundador e o fundamentalismo dos new born christians de Bush Jr., lado a lado como uma verdadeira obsessão pelo sexo e pela violência.
Pese o que pesar tal realidade, é fundamental a leitura do artigo de Mark Danner, professor de jornalismo em Berkeley, na última New York Review of Books sob o esclarecedor título «A Lógica da Tortura». Demonstra como fez parte da preparação da invasão do Iraque a instrução da tropa americana quanto às características culturais e sociais, idiossincrasias e comportamentos próprios das populações árabes com vista a não despertar hostilidade a partir de comportamentos ofensivos.
O complexo relacionamento islâmico com o corpo humano, a «pureza» e «impureza», a mulher e a vida sexual, as idiossincrasias sobre o contacto físico e as determinantes aparências sociais e muitos outros aspectos foram ensinados para não gerar problemas à ocupação.
Ora o que Danner vem demonstrar é que a acção fomentada pelos interrogatórios nas prisões iraquianas e afegãs acaba a ser uma integral utilização pela inversa de comportamentos e violências que claramente se sabia constituírem elementos de profunda humilhação e perturbação física e psicológica potenciada por uma determinante dimensão religiosa. Portanto, uma acção sistemática, consciente, organizada e hierarquizada.