Há uns trinta e tal anos o jornalismo português envolveu-se numa polémica que hoje não pode deixar de provocar largo sorriso.
A controvérsia travava-se essencialmente entre os matutinos e os vespertinos lisboetas e girava em torno de, inovadores em diversos aspectos (gráficos, redacção, iniciativas) os vespertinos (Diário Popular e A Capital nomeadamente) terem passado a eliminar nos títulos os artigos (definidos e indefinidos), as preposições e mesmo verbos, no sentido de, diminuindo o número de letras, valorizarem tamanho e acutilância.
De «Incêndio num armazém» passava-se a «Armazém incendiado», de «O Presidente do Peru de visita a Portugal» para «Presidente peruano em Portugal», de «A Sacor inaugurou a nova refinaria» para «Sacor inaugura refinaria».
Coisa de tomo, como se vê...
Os defensores deste português mais directo invocavam frequentemente o jornalismo brasileiro, onde o máximo de concisão no mínimo de palavras se impunha já tranquilamente aos acordos ortográficos.
E o exemplo de inovação era clássico: a manchete carioca quando da obscura morte do presidente Getúlio Vargas: «GETÚLIO SUICIDADO»!
Como a velha polémica amainou, parece adequado: «David Kelly Suicidado».