O tema das dificuldades económicas do País assentou arraiais na campanha eleitoral. Situação nada habitual, mas compreensível.
Durante dois anos, Durão Barroso fez do assunto o justificativo da sua acção, com enfadonhas evocações dos erros guterristas. Santana Lopes preparava-se para aliviar a temática e acolchoar perspectivas para eleições daqui a dois anos, mas em todos ficou a ideia de que tal habilidade terá constituído um dos factores que levaram Jorge Sampaio a tirar, finalmente, conclusões.
Neste quadro, o habitual eleitoralismo, desenhando futuros risonhos e benesses aos cabazes, arrisca-se a despertar no eleitorado mais desconfiança que entusiasmo.
Entretanto, o patronato, esse, é que não está com meias palavras aproveita para despejadamente avançar «soluções». As de sempre, aliás. Aumentar a semana de trabalho, os trabalhadores que paguem; aumentar a data de reforma para os 70 anos, os trabalhadores que paguem; levar sindicatos a aceitar congelamentos de salários, os trabalhadores que paguem; diminuir garantias sociais e direitos laborais, os trabalhadores que paguem. E, já agora, diminuir mais os impostos sobre os lucros.
É assim particularmente interessante que, eleitoralmente, o PS e PSD façam essencialmente três coisas jantam, dizem uma coisa hoje - e outra no dia seguinte. Tirando o jantar (que a campanha paga), os trabalhadores pagam.