&quot;Seiscentos - bem úteis!&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

A partir de hoje, os Mil caracteres, à semelhança do que abundantemente sucede nas obras públicas, vão ter os chamados "trabalhos a mais". Em concreto, de mil, passam a 1600! Nas reconstruções desta semana aqui na gazeta, fomos agraciados com nada mais nada menos do que 600 caracteres! Convictos de que não surgirão problemas com o Tribunal de Contas, atirámo-nos a eles... Entretanto, pôs-se a questão do título, ou melhor, nome da rubrica de hoje em diante, não são mil: são 1600. Pensou-se mudar, correspondendo à aritmética. Mas assim como assim, dado que nem esta nem os títulos andam famosos em Portugal, ficámo-nos pelo mesmo. Até porque é um exercício habitual aos leitores da lusa imprensa em geral descortinarem no texto o que justificou a garrafal titulagem - e sem êxito. Donde, os milhares de amigos dos Mil caracteres escusam de fazer contas agora, são mais 600!

Quero aproveitar, e já, para felicitar Manuel Gusmão pelo prémio de poesia D. Diniz que lhe foi atribuído - e sublinhar a tal respeito um facto. As notícias de todos os jornais referem a carreira de professor, ensaísta, investigador e poeta de Manuel Gusmão. Todos ocultam um traço da sua vida e personalidade, assumido com inabalável verticalidade intelectual e firmeza cívica Manuel Gusmão é militante comunista, foi, entre outras coisas, deputado do PCP e foi de novo eleito membro do CC no último congresso. Para argumentar o enfraquecimento intelectual do PCP, parece que também é preciso mutilar a vida dos homens.