O resultado mais claro e fortemente expressivo das eleições de 20 de Fevereiro foi a derrota dos partidos da direita, tal como esperávamos, e era sentido já na campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. Como é conhecido, já então um dos objectivos centrais da campanha da CDU era dar um cartão vermelho ao Governo e derrotar a política da direita.
Os resultados confirmam a justeza da luta contra a política dos últimos governos e a exigência que fizemos, aquando do abandono de Durão Barroso, da convocação de eleições antecipadas, como primeiro passo para pôr termo à obra de destruição dos Governos do PSD e CDS/PP, que tão contestada foi pelos trabalhadores e pela maioria da população, em inúmeras e diversificadas lutas.
Estes resultados eleitorais mais baixos de sempre do PSD, a que se junta a quebra de votação do CDS/PP e uma perda de cerca de 12 pontos percentuais dos dois partidos no seu conjunto, confirmam o profundo descontentamento e erosão de apoio social que a política dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes geraram em largos sectores da população portuguesa, nos últimos três anos.
Quanto à CDU, registe-se a evolução positiva do número de votos e da sua expressão eleitoral, com mais dois deputados, o facto de ter passado a ser a terceira força política e ter visto a sua representação parlamentar reforçada com mais um deputado em Lisboa, um segundo deputado pelo Porto e a eleição de um deputado por Braga, embora se lamente a perda de um deputado em Setúbal, apesar da subida do número de votos também naquele círculo eleitoral.
A maioria absoluta obtida pelo PS, resultante, sobretudo, da capitalização do vasto descontentamento com os governos do PSD/CDS, e beneficiando da dinâmica induzida pela falsa ideia dos candidatos a primeiro-ministro, constitui um elemento novo, que é menos tranquilizador do que à primeira vista pode parecer, quanto à concretização da necessária mudança, de uma mudança a sério, que a situação do país exige.
É verdade que muitos milhares de eleitores optaram por dar o seu voto ao PS, não tanto com a convicção de que isso corresponderia à decisão mais segura para uma mudança a sério, mas, sim, pela vontade de afastar o PSD e o CDS/PP do governo. Mas corre-se o risco de, com o resultado final obtido, não se conseguir a viragem política a que muitos aspiravam. Sendo necessário esperar pelo programa do governo, pelas propostas concretas e pelas soluções de governo que o PS venha a apresentar, o facto de se encontrar de mãos livres e sem necessidade da procura de convergências e acordos à sua esquerda é, em si, um sinal inquietante quanto às opções e orientações essenciais que possa vir a adoptar, tendo em conta as posições pouco claras e, por vezes, até contraditórias, relativamente a temas tão importantes como a legislação laboral, o aborto, a defesa da produção nacional, a função pública, a saúde, a luta contra a pobreza.
O PS tem, agora, especiais responsabilidades com esta maioria absoluta. Não pode usar quaisquer subterfúgios para defraudar o desejo de mudança que os trabalhadores, as mulheres e a maioria da população desejam. Não pode usar a desculpa da "pesada herança" para fugir a uma nova política, a medidas sociais fundamentais e urgentes que permitam melhorar melhorar as condições de vida da população mais carenciada, a defender os interesses dos trabalhadores e um Portugal mais justo e soberano.
Da parte da CDU, é assumida por inteiro a responsabilidade de continuar a sentir e viver as preocupações dos trabalhadores, das mulheres e da população, partilhando os seus sonhos de uma vida melhor e digna, como foi salientado na grande campanha de esclarecimento e de mobilização de vontades que, semana após semana, se foi desenvolvendo, e em que participaram com grande coragem, generosidade e determinação muitos milhares de activistas. Contem connosco.