&quot;Preocupações de especialistas&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Na semana finda, o Departamento de Estado norte-americano proporcionou ao planeta a sua análise sobre a "violação dos direitos humanos no mundo", um exercício que, nas actuais circunstâncias, adquire contornos de intolerável ridículo. Vem a propósito lembrar que o uso hoje inteiramente generalizado da expressão "direitos humanos" é, só por si, significativo. Na verdade, Direitos do Homem é expressão criada essencialmente pela Revolução Francesa e foi com esta tradução que os Droits de l'Homme entraram no vocabulário português, tal como de forma semelhante no espanhol, italiano, etc. A situação alterou-se na década de 80, quando a Administração Carter lançou uma gigantesca campanha em torno dos "direitos humanos", no quadro de uma ofensiva contra a União Soviética com outras expressões no campo económico, comercial, científico, etc. Os Direitos do Homem, com estatuto adquirido na cultura e línguas europeias, foram rapidamente substituídos desapareceram os direitos conquistados com a tomada da Bastilha para surgirem os "direitos" concebidos em Washington... Após Abu Ghraib, Bagram, o arrastar da intolerável situação de Guantánamo, de tudo o mais que haveria a citar, no último "relatório" manifestam-se "preocupações" sobre a situação das prisões... em Portugal! Independentemente de haver razões, reconheça-se que a opinião vem de especialistas: a média de encarcerados na UE é de 87 presos por cem mil habitantes e nos EUA é de 685. Para uma capacidade que não atinge metade da população prisional.