A escrita de João Lopes tem a estimulante característica de, falando do que muito sabe, o cinema, trazer sempre outras vidas e reflexões.
JL chamou ontem nestas páginas a atenção para que a actual agressiva multiplicidade da comunicação audiovisual «explora o pânico como modelo de percepção», na imagem de guerra, no crime passional: «O certo é que se informa, muitas vezes, apenas para instalar uma sensação de insegurança – nada podemos fazer, eis a mensagem que se faz chegar aos (tele)espectadores.» Não discordo, mas uma dimensão não deve ser esquecida: no contemporâneo processo noticioso quotidiano, a informação reporta-se ao que já aconteceu, aquilo sobre que, em grande medida, nada se pode fazer. Mas ainda quando a imagem mostra o corpo morto no chão ou as árvores calcinadas. Terrível contradição no processo informativo: mais vasta, a informação pode ser voyeurismo e negar o papel histórico desde sempre chamada a cumprir: o conhecimento de realidade para o seu domínio e transformação pelo Homem. Se JL tem razão ao dizer «a verdade de uma imagem, inclui o modo como é tratada e transmitida», o modo como é tratada e transmitida é basicamente ideológico e forjado pelo que se pensa sobre a realidade. A grande diferença começa aí: ou nada podemos porque nada queremos fazer – ou queremos conhecê-la e transformá-la.