&quot;O trabalho e os seus frutos&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Miguel Veiga é daquelas figuras que, pela reflexão elaborada e escrita cultivada, proporcionam o agradável sentimento de que, portugueses e discordantes, é possível falarmos razoavelmente uns com os outros. Mas, e talvez exactamente por tudo isso, reflectindo sobre o seu envolvente discurso, a discordância é inevitável.

No Expresso de ontem, o advogado portuense fez, no quadro da sua postura de «barão» singular do PSD, uma articulada catilinária contra o populismo para, afinal, chegar a uma conclusão que o pessimismo snobe que Vasco Pulido Valente eficazmente introduziu na prosa política nacional não enjeitaria o povo é frágil (até porque necessitado...) e portanto vulnerável à demagogia populista. A única solução é dispor de políticos que não sejam populistas.

A questão está em que, não se fornecendo qualquer solução processual para a criação e protagonismo de tais políticos, ela fica exclusivamente à aleatória mercê de, por sua própria conta e previsíveis riscos, eles aparecerem... Não quero contrapor às abundantes citações de Miguel Veiga algumas linhas de Weber ou Marx... Mas valeria a pena meditar sobre se o eixo do problema não residirá antes numa cultura, numa ética social e política baseada no trabalho e na criação ou no lucro e no consumo.

Em matéria de combate ao populismo, deveríamos começar pela defesa do direito ao trabalho e dos trabalhadores. Porque aí é que dói.