"Composta e impressa para Publicações Europa-América na Tip. do Jornal do Fundão", aparecia nas livrarias em Dezembro de 1960 o Dicionário Crítico de Algumas Ideias e Palavras Correntes, de António José Saraiva. Aparecia e rapidamente desapareceria, pelo desvelo dos leitores e pelo ainda maior desvelo da PIDE.
O livro fez época, até pela sua pouco habitual estrutura reunia duas dezenas de pequenos ensaios sobre "ideias e palavras correntes", que tinham exactamente a eficácia de se referirem a temas... correntes!
A primeira "entrada" é "América" e o autor debruçava--se sobre a perplexidade que eventualmente geraria na Europa o facto de um milionário emblemático, Nelson Rockefeller, ter em 1958 obtido uma mais que confortável maioria eleitoral para o cargo de mayor de Nova Iorque. Seria plausível um Rotschild maire de Paris?...
A condição de milionário despertaria junto dos eleitores europeus suspeitas sobre a dedicação à causa pública de quem pessoalmente assim enriquecera, enquanto nos Estados Unidos, pelo contrário, tal enriquecimento acabava por constituir a demonstração dos talentos e qualidades do seu protagonista.
"O americano, escrevia António José Saraiva, continuará a entregar os seus destinos a homens de negócios experimentados e bem sucedidos, convicto de que as regras da empresa capitalista são necessariamente as regras universais e eternas da prosperidade." E interrogava-se "Até quando?"
Parece que aquele "quando" se prolonga até hoje, mas até nem foram os argentários instalados na Administração americana que recordaram o livro de há 40 anos é que não há dia em que um qualquer jornal ou televisão não elucide os cidadãos portugueses sobre as idiossincrasias, perspectivas, ideias, gostos e desgostos do Dr. António Borges, candidato a candidato da liderança do PSD.
António José Saraiva recordaria o célebre "O que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos" ora, pois, parece que o que é bom para a Golden & Sachs é bom para Portugal...