1. Para quem dele esperava um abrir de portas para fazer sair o País das dificuldades, a reunião do Convento do Beato foi o fracassar dessas expectativas.
Na situação em que temos vivido e que se projecta num futuro próximo pouco promissor, após apelos e expressões das necessidades de outros rumos, o que saiu desta assembleia dos quinhentos foi um pífio revisitar de fórmulas serôdias que se esgotaram na falta de correspondência, já anteriormente testada, com essas necessidades.
Se quem se juntou nas instalações da Nacional foi a “nata” dos empreendedores, o colesterol agravou-se e até se percebe que alguns deles se conformem com essa visão de um Portugal inevitavelmente dividido em partes de tantas outras regiões de Espanha.
2. Ali se repetiram, sistematicamente, todas as reclamações de “empresários” que nos tempos contemporâneos não souberam estar (não sendo isso inédito na nossa História) à altura das responsabilidades enquanto gestores da riqueza, colectivamente produzida mas por eles individualmente apropriada. Nem sempre em conformidade com a “livre concorrência”. E recorrendo mais ao Estado do que a uma estratégia própria das respectivas empresas.
As “30 propostas” foram servidas, embrulhadas na liberalização dos despedimentos, na maior flexibilidade laboral, em mais três anos de “moderação salarial”, na administração pública centrada no “menos Estado” (não para eles mas para os outros) e na redução da despesa publica, no aumento das custas judiciais para restringir o acesso à justiça, na “lei do consumidor-pagador” aplicada à Educação e Saúde e na redução das despesas com a Segurança Social.
Nada disseram (que transpusesse os claustros) sobre o crime e a evasão fiscal, , o encerramento e deslocalização de empresas, o que vão as suas empresas investir na inovação tecnológica e na gestão, sobre quais vão ser os seus esforços para redefinir perfis produtivos no quadro cada vez mais exigente de concorrência, quais os seus critérios para aumentar a produtividade e competitividade, como pensam contribuir para reduzir o deficite produtivo ou sobre a reflexão que fizeram quanto aos efeitos das privatizações na alienação de alavancas da economia.
Vieram dizer-nos que o pior ainda não passou.
Depois dos aumentos dos preços dos bens e serviços essenciais, da redução dos salários reais, do aumento do desemprego, do acentuar das assimetrias na distribuição do rendimento, da instabilidade, da insegurança e dos receios quanto ao futuro, ainda querem mais.
Estes empresários, afinal, não disseram, nada de novo. Mas depois de tudo isto, ainda querem mais...
Não há uma palavra autocrítica, o desenho de outros caminhos a partir da sua iniciativa. Falharam. E terão que ter em conta que o dinamismo da mudança não reside apenas neles.
Este pronunciamento teve, de forma clara, sinal contrário àquele outro que há trinta anos abriu caminhos de futuro.
E vem na sequência de um novo apelo ao “centrão” de personalidades que se destacaram no naufrágio da nossa economia nos últimos vinte e cinco anos.
Estes fizeram um apelo a mais um “pacto”.
Os outros, de que temos falado, os do “Compromisso Portugal” vieram de seguida.
Há trinta anos quem se pronunciou fê-lo não pensando nas suas mordomias mas pensando em Portugal. Estes, agora, querem obter mais do Estado mas não dizem o que se propõem fazer pelo País.