15 de Junho de 2003
Na impossibilidade de, num espaço razoável, rebater o conjunto de falsidades e referências hostis ao PCP que povoam diversos textos insertos no "Público" de 11/6 a propósito do Fórum Social Português, desejamos pelo menos sublinhar o seguinte:
1. É lamentável que os autores desses textos, e nomeadamente Nuno Sá Lourenço, tenham impingido aos leitores uma contraposição entre "uma miríade de organizações e associações dos mais variados espectros" e "o PCP as suas entidades satélites". Pode-se compreender que esse truque tenha sido convenientemente inventado por algumas pessoas ou entidades envolvidas na preparação do FSP na sua ânsia de arranjarem uma justificação para o facto de algumas das suas propostas não terem tido o acolhimento que desejariam. Mas compreende-se mal que redactores do "Público" absorvam essa patente falta de espírito democrático e de respeito que deve existir entre organizações envolvidas num projecto comum e que consiste em tratar alguns grupos, associações ou entidades como magníficos "movimentos sociais" (e muito "autónomos" e "independentes") se tiverem certas opiniões mas já tratarem um vasto conjunto de outras organizações - algumas das quais de incomparável influência e dinamismo sociais - como "satélites do PCP" se tiverem opiniões diferentes.
2. É igualmente lamentável que, no comentário intitulado "Um outro PCP é impossível", Nuno Sá Lourenço tenha vindo acusar o PCP de ter lutado "por incluir o maior número possível de militantes mediáticos comunistas nos principais debates e conferências" enquanto, segundo diz, já os dirigentes do Bloco de Esquerda "evitaram protagonismos". A este respeito, só é pena que se tenha esquecido de contar aos leitores que nas conferências centrais do Fórum participaram 11 membros da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda enquanto os membros do Comité Central do PCP que nelas intervieram foram 7.
3. É completamente falso que o PCP e a CGTP se tenham colocado "desde cedo" na dianteira do desfile de dia 10. A verdade é que, no âmbito da proposta que tenha sido anteriormente consensualizada e que era irrepreensivelmente democrática e igualitária, a cabeça do desfile foi ocupada por representantes de cada uma das organizações participantes no FSP e aí só não participaram porque não quiseram os grupos, associações ou entidades que, sem êxito, se tinham anteriormente batido pela sua proposta espantosamente burocrática, dirigista e discriminatória de colocar o movimento sindical atrás de si próprios e de colocar os partidos no fim. Como é evidente, uma tal proposta visava garantir aos seus autores, no fecho do FSP, o que nunca tinham conseguido antes, ou seja, instituir e consagrar um estatuto de segunda categoria para o que chamam de movimentos sociais "tradicionais" e de terceira categoria para os partidos, em reflexo de um conjunto de desconfianças e suspeições sobre os partidos que melhor se compreenderiam em quadrantes ideológicos de direita.
4. A este respeito, é ainda útil que os leitores do "Público" saibam que estiveram representados na cabeça do desfile várias dezenas de organizações (da CGTP-IN à Federação da Colectividades de Cultura e Recreio, da FENACOOP ao Conselho Português para a Paz e a Cooperação, do PCP à Associação Promotora dos Direitos Humanos, da Opus Gay à Associação Água Pública, dos "Verdes" ao MDM, de diversos sindicatos e Uniões Sindicais às Comissões de Utentes de Transportes da Margem Sul, das Coordenadoras das Comissões de Trabalhadores de Lisboa e Setúbal à Associação de Inquilinos Lisbonenses, etc). E que compreendam que a recusa de um grupo de organizações em aceitar a disponibilidade manifestada pelo PCP já na Avenida da Liberdade para desfilar depois delas - por decisão soberana do PCP e não por ilegítima imposição alheia (o que faz toda a diferença) -, só pode ter o significado de uma aposta premeditada numa táctica de fingida vitimização que escondesse os seus repetidos procedimentos pouco democráticos e as suas exclusivas responsabilidades na separação do desfile que devia ter sido comum.
5. O PCP foi promotor e participante de pleno direito no FSP. Não aceitou nem aceitará que alguns se apresentem como proprietários particulares de uma iniciativa que é de pertença plural e colectiva. Jamais quis discriminar ou amesquinhar fosse quem fosse. Jamais desrespeitou qualquer decisão democraticamente tomada nas instâncias legítimas de preparação do Fórum. Ao contrário de outros, não passou o tempo a soprar para a comunicação social intrigas sobre incidentes de bastidor que, tristemente, acabaram por ser parte essencial do noticiário sobre o Fórum. Antes se empenhou sempre numa real congregação de energias democráticas que outros apregoam mas não praticaram.
A terminar, desejamos acreditar que, com um módico de bom senso, isenção e pluralismo, um outro "Público" será possível, menos ostensivamente preconceituoso em relação ao PCP e mais atento à diversidade das versões ou opiniões sobre certos factos e acontecimentos.