&quot;O irremediável equívoco&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Melancólico, Eduardo Lourenço (EL) constata no Público de dia 18 que o PS "descurou, em excesso, a luta cultural, o combate de todos os instantes para dar à liberdade reencontrada o seu alento e irradiação. (...) Investiu-se na mera função política, mas desconectou-se quase por completo da sua inscrição cultural". Deste fracasso conclui EL por uma derrocada da cultura de esquerda em Portugal e o perigo de uma cultura de direita, até na medida em que reconhece ter razão Pedro Mexia quando anuncia exactamente a emergência de novas expressões dela? Não. EL entende que até há uma cultura de esquerda, admite mesmo que mantém consistentes capacidades de intervenção - mas exactamente esse é que parece ser o seu problema. Porque dela seria o PCP que possuiria um "monopólio" "O deficit 'cultural' é menos o do PCP que o do PS" e, acrescenta, "por mais que custe a acreditá-lo", o PCP é "o mais intelectual dos nossos partidos políticos". Manifesta EL alguma, ainda que desmaiada, satisfação por, "mau grado as múltiplas dissidências ou as novas modas culturais", se manter esta capacidade de intervenção cultural à esquerda? Não. Face à actual situação, EL acha que "ao fim destes 30 anos de democracia (...) são sempre duas versões de esquerda que continuam a digladiar-se na cena portuguesa". Por isso espera que "uma virtual vitória do PS [seja] ocasião para remediar a sua carência histórica neste domínio". Por mim, ao fim destes 30 anos de democracia, continuo a digladiar-me com a direita.