Regressado há pouco de breve bronzeamento, o meu amigo Eduardo Prado Coelho fez-me a partida de se antecipar na citação das espantosas afirmações de Patrick Le Lay. Este dirige a TF1 desde que, privatizada, passou para as mãos do gigantesco grupo Bouyghes, de que Le Lay já era e ainda no tempo em que a Bouyghes só andava pelas empreitadas oficiais de construção civil, um dos altos quadros (o Eduardo não entra nas minudências).
Com a franqueza obscena de quem ganha muito dinheiro, Le Lay afirma em entrevista que, «no fundo, o trabalho da mais vista televisão francesa é ajudar a Coca-Cola a vender o seu produto», concluindo: «O que nós vendemos à Coca-Cola é tempo de cérebro disponível», o que medeia entre os programas ocupado pela publicidade.
Ao ler isto, e compreendendo a tão cortês quanto conformada indignação de Prado Coelho, ocorreu-me uma ideia. Dada a previsível impossibilidade de qualquer inteligência normal perceber o que se passa com PJ, Casa Pia, segredo de justiça, só falta que alguns fabricantes mais arrojados lancem uma campanha imaginativa. «Adelino Salvado foi gravado em cassetes CO2 Silva de 60 minutos: as mais fiáveis e resistentes.» «Grave as primeiras palavras do seu filho com rigor profissional: cassetes Costa, níquel-crómio - as da Procuradoria.» «Não receie pelo futuro das suas memórias: a cassete óxido de ferro embalagem cerâmica Silveira resiste a tudo.» Pode ser que assim arranjássemos alguma disponibilidade de cérebro para aturar esta cegada.