&quot;O balanço&quot;<br />Bernardino Soares na &quot;Capital&quot;<span class="titulo2"><span class="data">

9 de Abril de 2003

O Governo tem poucas razões para festejar o primeiro aniversário da sua entrada em funções, aliás manchado pelas circunstâncias desprestigiantes em que ocorreu a demissão do Ministro Isaltino Morais, e pela forçada remodelação que juntou à saída dos dois ministros as alterações em mais oito Secretarias de Estado, pondo a nu uma instabilidade interna que afanosamente iam tentando esconder.

Mas se o Governo teve um aniversário pouco feliz, menos razões têm os portugueses para festejar este ano de governação à direita.

É que não restam dúvidas (mesmo para muitos dos que votaram nos partidos da maioria) de que a política do Governo PSD/CDS compromete o desenvolvimento económico e social, e agrava as desigualdades no nosso país.

São já visíveis os efeitos nefastos de uma política de irracional submissão a um limite de défice que não se adequa ao momento económico actual nem ao atraso relativo do nosso país no quadro europeu. A par disso continuamos a assistir ao desmantelamento do nosso aparelho produtivo e a sucessivas deslocalizações, encerramentos e falências, que deixam atrás de si um rasto de desemprego e instabilidade na vida de muitos trabalhadores e das suas famílias. É o resultado da situação económica que vivemos mas também de uma política restritiva e de diminuição do investimento público que o governo impôs.

A um desemprego crescente, com especial incidência nos jovens e nas mulheres junta-se uma cada vez maior precariedade e ataque aos direitos dos trabalhadores, com muitos patrões a anteciparem já o que está proposto no Código de Trabalho, com a conivência, pelo menos tácita do Governo. Perpetua-se assim o modelo de baixos salários, direitos diminuídos e fraco desenvolvimento tecnológico.

Um outro importante traço de um balanço deste ano de Governo de direita é o agravamento das desigualdades entre os portugueses. Na verdade os sacrifícios não são para todos. Enquanto a banca e os seguros continuam a beneficiar de taxas reais de tributação de 12% ou 13%, e se mantém o consumo de bens de luxo, e a compra das casas e dos automóveis mais caros, os salários e as reformas vão cada vez mais diminuindo o seu valor real, sobretudo em face do aumento de custo de vida dos bens essenciais, que as famílias portuguesas sentem todos os dias.

A política do Governo culminou da pior forma com o comprometimento do nosso país na invasão do Iraque pelos EUA e pelo Reino Unido, caucionando uma política de imposição unilateral dos interesses norte-americanos, de desrespeito pelas Nações Unidas e pelo direito internacional, e uma agressão que castiga ainda mais o já martirizado povo iraquiano. Soam aliás a hipocrisia os recentes votos pios do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros e de outros apoiantes da agressão comandada pelos EUA, sobre a indispensabilidade da presença da ONU no pós-guerra iraquiano, até porque sabem que ela só se dará na medida em que os interesses norte-americanos o permitirem (está até já nomeado um “vice-rei” para o Iraque).

Cada vez mais se torna indispensável outra política, que defenda o interesse nacional e combata as desigualdades, melhorando a qualidade de vida de todos os portugueses.