Acentuam-se razões para profundas reflexões de todos aqueles para quem o “circo” montado em torno do processo Casa Pia pode esconder objectivos bem diferentes do mero acompanhamento de gravíssimos actos criminosos.
Não se trata apenas de confirmar que o “circo” pode estar a servir como arma de arremesso na luta política, usada com “arte de conta gotas”, agora este, depois aquele, “valendo tudo, até tirar olhos”, até atingir a mais alta figura do Estado desde que isso sirva para tentar “colar auréolas de suspeição ou inocência” sobre campos políticos adversos.
Não se trata apenas de confirmar o total desrespeito pelo segredo de justiça e a demissão inaceitável de todos os que deveriam agir contra quem quer que fosse incumpridor, funcionário ou agente, jornalista ou jornal.
O que parece descortinar-se a reboque deste processo são objectivos mais perigosos ainda. É que a confusão intencionalmente instalada está a servir para descredibilizar, em primeira linha o próprio processo judicial, e em segunda linha, a Justiça em Portugal.
Os Portugueses sempre se queixaram (com razão) da forma como a Justiça é administrada. Só que, apesar dessas queixas, sobressaía um sentimento significativamente alargado de confiança na Instituição. Com o “circo” da Casa Pia estão agora a minar-se as bases de confiança que o País detinha na Justiça. Minando esta confiança está completo o quadro de descrédito global relativamente às Instituições, a todas as Instituições. E a quem aproveita o descrédito das Instituições do regime democrático constitucional saído do 25 de Abril? E a quem ouvimos já (por exemplo através da reclamação de novas leis censórias) exigir medidas exemplares de “alteração do sistema”?