&quot;Normal funcionamento&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Embora escrito algumas horas antes da comunicação de Sampaio ao País, parece possível desde já afirmar que o fundo do que vai ser dito já toda a gente o sabe: com mais ou menos explicitações e razões, formalizará a dissolução e a convocação de eleições antecipadas.

Não parece por isso que seja num prudente esperar pelas palavras presidenciais que se encontre explicação para o que parece ser uma, pelo menos relativa, apatia da oposição, tanto mais notória face à frenética agitação do PSD.

É possível afirmar que tal agitação tem tido resultados discutíveis e que as minhocas acompanham alegremente as cavadelas. Os insultos a Sampaio, a inconcebível invenção do «caudilhismo», a abjecta operação de Paulo Portas com a Bombardier não serão seguramente muito favoráveis ao PSD, mas dão ideia da forma como este está na disposição de ir à campanha. E sobre este estilo perfila-se outro factor deveras inquietante: durante dois meses este frenesim vai contar com os meios do Governo. Não há a mais pálida dúvida que, por vontade de Santana, toda a máquina do Estado se transformará de imediato numa gigantesca máquina eleitoral.

E é aqui que cabe perguntar se a responsabilidade presidencial se esgota com a comunicação de ontem. Um Governo a funcionar como gabinete eleitoral partidário não corresponde seguramente ao conceito de normal funcionamento das instituições.