&quot;MFA e povo&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Trinta anos depois, recordemos o diálogo das comunicações rádio entre os últimos militares que tentaram manter o fascismo:

Brigadeiro Junqueira dos Reis - Escuto.

General Luz Cunha - Peço para dizer que meios pensa que nós poderíamos pôr à sua disposição para prosseguir a operação.

J. R. - Não vejo possibilidade, porque está tudo atravancado e... aqui 'tou... consegui limpar aqui o Largo [do Camões], mas há muita população aqui metida no meio que não hostiliza, porque julga que estamos do outro lado. De forma que eu não vejo bem maneira, a não ser com meios aéreos, que possa limpar um bocado aquilo. Que a infiltração não me parece viável. Escuto.

L. C. - (?) Meios aéreos não acredito que tenham qualquer possibilidade de fazer acção aí. (...)

L. C. - Então o que é que se há-de fazer?

J. R. - Não sei.

L.C. - Escuto.

J. R. - Não vejo solução.

O 25 de Abril pôs fim a meio século de ditadura porque um punhado de jovens capitães teve a generosidade, coragem e lucidez de assumir que a arma da crítica não substitui a crítica das armas. O 25 de Abril foi uma revolução porque, desde a primeira hora, o povo compreendeu que os capitães abriam as portas à liberdade e ele próprio disse e fez - O povo está com o MFA. E a revolução cumpriu-se.