&quot;Mais vida e dramas!&quot;<br />Honório Novo no &quot;Jornal de Notícias&quot;

Anteontem, durante poucos segundos, num dos telejornais já noite dentro, ouvi uma conversa entre Jorge Sampaio e trabalhadores da Figueira da Foz que não recebem há quatro meses.

No intervalo, isto é, durante o resto do dia, só “deu” Herman José, imunidades, suspensão de mandato de Paulo Pedroso, visitas familiares a Carlos Cruz. Quem são e o que fazem, o que vestem e com quem almoçam, que cafés frequentam e onde moram, o que amigos e vizinhos pensam de juízes e de investigadores judiciais, são os temas que nos inundam. E que nos fazem viver isso como se disso vivêssemos…

O ar angélico do Governo quando fala destes temas mostra bem como lhe interessa que os “media” lhes continuem (de forma permanente e quase obsessiva) a prestar atenção quase exclusiva. É um facto que a prisão preventiva, as escutas telefónicas, as fugas ao segredo de justiça, são temas fundamentais. Pena é que só neste momento sejam valorizados. Espero que quando estes casos desapareçam, continuem a ser discutidos para que todos e não apenas alguns sejam beneficiados.

Mas o essencial é notar que enquanto esta overdose permanece e absorve as atenções, o Governo, seráfico, esfrega as mãos de contente. É que, entretanto, não se fala de salários em atraso, do encerramento de empresas, da destruição da pesca artesanal, da recessão em que o País cai, da pobreza aberta ou envergonhada, da instabilidade que cada vez mais nos bate à porta, da saúde que os portugueses não têm ou da educação e formação a que só as elites têm acesso.