Uns dirão “Mais uma vez”. Outros, como eu, diremos “Sempre, de maneira diferente, e de forma correspondente à situação”.
Foi o que os trabalhadores fizeram no dia de sol que foi este 1º de Maio.
O mar de gente que só parou de entrar na Alameda pelas 18 horas mostrou as suas razões, não foi de fim-de-semana, deixou os recados aos que, na política, estão cada vez mais condicionados pelos que detêm o poder económico, e que teimam em não manter no centro da actividade económica, como fonte inspiradora, actores essenciais e fundamentais beneficiários dela, cada mulher e cada homem, cada jovem e idoso, todos os que , pelo seu trabalho criam valor acrescentado, que depois não tem uma redistribuição correspondente.
Nem pelos níveis de remuneração e qualidade do trabalho, quando existe, nem pelo nível de investimento público produtivo gerador de uma dinamização do conjunto de uma actividade económica, que tem que ter um empurrão dos que se não podem encolher com a recessão, e do mercado interno, o que nos actuais constrangimentos externos, implica a elevação do poder de compra e a inovação na economia que dê as respostas que não nos tornem mais dependentes das importações e de ,portanto, não façam pesar tanto o deficite nas preocupações.
Gastamos mais do que produzimos? Esse é um problema que não é só dos trabalhadores mas fundamentalmente dos empresários e da qualidade do investimento público produtivo, da capacidade de colocar no mercado interno e com condições de defesa que outros países asseguram para sectores, cuja actividade é tão importante nas respectivas estruturas económicas e no peso que têm de postos de trabalho que asseguram.
Mais preocupante é seguirmos, cegamente um controlo do deficite, que outros, acabaram por colocar num plano secundário, porque custa mais ao país o que ele perde em termos de redução de receitas e de aumento da despesa pública com o desemprego ou a total precarização do trabalho, dos encargos públicos crescentes que resultam desta situação para a saúde e sucesso escolar nas formações de que o país carece, da baixa qualificação de mão de obra com reflexos directos na produtividade e nas quebras dos retornos fiscais, de que a sociedade beneficia pele elevação de rendimentos sujeitos aos regimes contributivos e dos impostos pagos pelas empresas, e do que disto tudo resulta em termos de debilitação dos meios da segurança social para as actuais e vindouras gerações.
Os trabalhadores que desfilaram em Lisboa ouviram há dias o Presidente da República pronunciar-se sobre a necessidade de inovar para aumentar a produtividade e competitividade, tese cara aos trabalhadores de há muito tempo mas de difícil compreensão por muitos empresários que só pensam ganhar muito, depressa e de qualquer maneira.
Quando há meses atrás se procedeu ao pré-lançamento da COTEC, para promover a inovação empresarial, agora formalmente lançada na companhia do Rei de Espanha, maus presságios nos trouxeram declarações de alguns, quando associavam a inovação das suas empresas à gestão por eles das nossas instituições de ensino superior. Mais uma vez a gula e a falta de vontade de risco se fazia sentir.
O ensino superior tem uma missão fundamental na formação de quadros, cuja qualidade é indissociável dele ter no seu seio uma fatia fundamental de I & D realizada em Portugal. Aos seus responsáveis o país pede responsabilidades de formação.
Aos empresários que contribuam bastante mais para a I & D e que invistam os recursos que foram gerados pelos trabalhadores, e cuja posse detêm, na produção de riqueza e de postos de trabalho. A propriedade, o que se faz com ela, as responsabilidades sociais de quem a detem, não é inquestionável por cada homem ou mulher que dela beneficiam porque para ela contribuem de forma determinante. Por isso a sociedade assume o direito de pedir responsabilidades dos empresários. E não aceita que beneficiem, sem contrapartidas, de mais uma “teta”.
Eles que assumam a responsabilidade de desenvolver protocolos com as instituições de ensino superior, com vantagens mútuas. Depois se verá que tipo de participação devem ter na vida dessas instituições, a que não poderá também ser estranha a capacidade que estas tenham de influir da vida das empresas.
Nomeadamente na absorção de quadros formados nos diversos níveis de ensino, na inovação na organização e gestão, nos métodos, no investimento em criação de produtos concorrenciais, na base da sua qualidade e correspondência às necessidades dos consumidores, para que esses jovens foram formados e não dos baixos salários, de um marketing adequado à conquista de nichos do mercado interno e no quadro de uma economia integrada, onde se tornaram mais exigentes as condições de competitividade do que se produz, dos serviços que se oferecem, na captação de capitais.
Integração europeia que se traduziu num processo atrabiliário, com motivações políticas onde foi descurada a criação das condições económicas e sociais para que a “coesão” não fosse mais que um palavrão de circunstância. E em que o neo-liberalismo decorrente da globalização capitalista criou as condições, com o colapso de sociedades alternativas, para o exercício planetário do imperialismo de uma só potência, e nos humilha em cada genuflexão que este e outros governos diante dele entendem fazer, esperando disso contrapartidas.
A prioridade dada à elaboração do novo Código de Trabalho dá conta do empenho dos grandes empresários com a inovação... Acabar com a contratação colectiva, desregular horários de trabalho, diminuir direitos, tornar cada vez mais precária a vida de cada trabalhador e da sua família!. Como podem pensar na economia, tirando dela as pessoas??
Os que remetem para estes comportamentos o entendimento que fazem dos “desígnios nacionais” não estão a acertar com o paradigma.
Neste 1º de Maio, aqui e no resto do País foi-lhes mostrado outro.