A TV nacional inventou uma coisa: a «tradução simultânea» de português para português... que se passa?
Enquanto um orador pronuncia o seu discurso e sobre ele está apontada uma câmara, em voz off (mas por vezes merecendo a alternante atenção da câmara), o repórter repete (não vá o ouvinte ser burro...) o que foi dito, mas acrescentando-lhe um comentário. Como é fácil ver, resulta em situações inteiramente caricatas. O orador afirma «discordamos veementemente da posição tomada pelo PR» e, tão lépido quanto útil, o jornalista esclarece: «Fulano acaba de dizer que discorda veementemente da posição tomada por Jorge Sampaio», posto o que inicia um improviso, do estilo «tal posição já havia sido tomada logo na altura em que o PR divulgou etc.». Noutras circunstâncias, o «comentador» emite juízos brilhantes do estilo «disse isto, mas nada acrescentou sobre se o partido vai ou não tomar qualquer outra medida, etc.». Como é de prever, ao sobrepor-se, impedindo que se ouça o que o orador está então a dizer, o «comentador simultâneo» destrói o que plausivelmente a sua estação pretende fazer transmitir em directo o discurso. Por vezes com consequências graves, resulta na truncagem e falsificação do exposto no discurso, silenciado pela sobreposição. Que televisões, rádios, jornais e comentadores avaliem, julguem e analisem discursos dos políticos é legítimo. Mas este silenciamento viciado por «tradução simultânea» não é admissível.