&quot;Inquietante&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Em crónica recente, Vasco Pulido Valente fazia uma leitura da situação de Felgueiras à luz do séc. XIX português e do que defendia constituir a continuidade do complexo relacionamento dos cidadãos com o Estado central e o peso da influência próxima do caciquismo local.

Os mais recentes acontecimentos de Felgueiras e particularmente a agressão a Francisco Assis parecem contudo constituir uma mutação qualitativa real.

Não é a primeira vez na política portuguesa contemporânea que se registam confrontos físicos; mas verificaram-se entre militantes ou simpatizantes antagonicamente diferenciados.

Não são igualmente sequer invulgares conflitos e cisões dentro de uma mesma força política. Com maior ou menor dimensão, todas as formações partidárias viveram períodos conflituais, muitos traduzidos em rupturas e constituição de novas organizações. Os acontecimentos de anteontem configuram, porém, uma situação diferente: a culminar um declarado conflito entre as instâncias nacionais e locais do PS, a questão agudiza-se a ponto de se dar um confronto físico entre socialistas, envolvendo dirigentes e nas suas próprias instalações, a requerer a intervenção policial. Clientelismo e caciquismo chegam para explicar ou estamos perante a afloração de crise bem mais complexa e vasta?