É de leitura particularmente interessante o livro The Boss. J. Edgar Hoover and the Great American Inquisition, de Athan Theoharis e John Stuart Cox, um extenso estudo de 500 páginas sobre essa espantosa figura de um polícia paranoicamente reaccionário que atravessou praticamente todo o séc. XX americano. Entre as centenas de factos e episódios narrados, especifica-se uma prática de décadas do FBI através de um dos seus canais, Hoover "soprava", sem qualquer fundamento consistente, a um qualquer outro serviço - a administração fiscal, por exemplo - que determinada figura (congressista, político), estaria envolvida em negócios menos claros com incidências na fuga de impostos. Claro que o serviço informado iniciava um inquérito e, tão cedo tinha a confirmação deo processo estar aberto, o FBI abria o seu próprio inquérito, na base de que os "negócios escuros" da personagem em questão podiam constituir "risco de segurança nacional"... A partir daqui, as possibilidades multiplicavam-se: Hoover fazia abordar a vítima avisando-a, amigável ou ameaçadoramente, de que "parecia" que os homens do fisco andavam sobre ela - o que em grande medida era verdade! Conseguir assim mais um informador, influenciar alinhamentos no Senado ou na Câmara de Representantes - a teia estava tecida, sobre coisa nenhuma! O que é especialmente inquietante é que estes jogos de poder assentes na pura manipulação de informações podem ter protagonistas e processos muito semelhantes em várias áreas. Na comunicação social, por exemplo.