Num dos seus amargos ensaios sobre a crise da cultura e sociedade ocidentais na dura década de 30 do século passado, Johan Huizinga enumera os sintomas visíveis dessa crise e coloca entre eles o que designa por puerilismo.
O historiador holandês estigmatiza acerbamente a generalizada tendência dos adultos de então para, na vida privada e na vida pública, assumirem comportamentos infantis e irresponsáveis, abdicarem do rigor, da dignidade e da reflexão inerentes à experiência de vida e à responsabilidade individual e social da maturidade.
Quando membros do Governo e altos funcionários do Estado se envolvem numa tão grave quanto pateta habilidade para um favorecimento pessoal, quando as câmaras de TV surpreendem o dr. Paulo Portas de indicadores espetados ao céu à espera do sinal para começar um pseudodiscurso, quando os deputados socialistas são possuídos por lágrimas e excitações mais dignas de recreios escolares do que da sede do Parlamento, quando um alto magistrado discreteia sobre que um acórdão lhe foi desfavorável mas apenas por dois a um, então fica-se de facto com a sensação de que há em tudo isto qualquer coisa de infantil.
Mais, de inquietante irresponsabilidade.