&quot;Inconfidência<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Assiste-se presentemente no Senado norte-americano a uma interessante batalha a ratificação da nomeação feita pela administração Bush do "falcão" John Bolton para embaixador dos EUA junto das Nações Unidas, famoso por declarações inqualificáveis acerca da ONU quando da agressão ao Iraque e da mistificação sobre as "armas de destruição maciça".

A maioria republicana no Senado não é suficiente, necessitará de pelo menos quatro votos de democratas, com a agravante de não ser seguro que no campo republicano não se manifestem igualmente discordâncias.

Mas o que acabou por constituir o fulcro da desconfiança senatorial não foram as posições reaccionárias de Bolton, mas uma questão bem mais complexa há fundadas suspeitas que em 2003, e no exercício das suas funções na administração Bush, utilizou e divulgou informações classificadas e não confirmadas provenientes da National Security Agency (NSA) sobre a Síria e sobre cidadãos norte-americanos objecto de uma já em si polémica vigilância dos serviços secretos.

O relevante do problema é ser constante a forma como a extrema-direita que presentemente controla a política norte-americana não hesita em atropelar todos os dispositivos legais e constitucionais de defesa das liberdades individuais e despudoradamente utiliza a manipulação e a inconfidência do trabalho dos serviços de segurança como armas políticas. Mesmo em sectores conservadores avolumam-se as preocupações sobre a instrumentalização do poder por uma clique sem escrúpulos e a consciência de que nenhuma democracia é um dado adquirido. Necessita constantemente ser defendida.