Dois critérios básicos ditaram a Santana Lopes a composição do Governo que ontem tomou posse: 1º, o ter-lhe sido possível constituí-lo; 2º, o ter de o construir...
Se há dois meses alguém lhe perguntasse por linhas gerais sobre o quem e o como de um Governo para o País, Santana não teria nada de especial para dizer: tal perspectiva estava fora dos seus horizontes.
Este Executivo não corresponde assim a um sério amadurecer de políticas - de alternativa ou de continuidade -, a reflexão cuidada sobre metodologias ou soluções, menos ainda a um processo de avaliação e selecção de quadros que conduza a equipas articuladas e eficazes.
Se Durão Barroso chegou ao poder porque Guterres se foi embora, (mas, foi a votos), Santana Lopes chega porque Barroso bateu em retirada. Barroso chegou a S. Bento com um programa político irrealista e elaborado à pressa (lembram-se do «choque fiscal»?...) e uma equipa assumidamente débil. Um mês depois, o discurso alterou-se e o défice, o «país de tanga» e as «responsabilidades do PS» deram cobertura a uma governação brutalmente favorável aos grupos económicos e contrária aos trabalhadores.
Santana não poderá, evidentemente, recorrer a manobra semelhante: tem de continuar (previsivelmente agravar) a política anterior sem abertamente a criticar.
A coisa deve vir a passar-se assim: os drs. Barreto, Mexia e Bagão tratam dos negócios; Santana vai semanalmente à TV dizer seja o que for.