&quot;Filosofia&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

«Há uns meses (...) no Algarve (...) alguns feirantes agrediram os agentes da PSP. No dia seguinte, às seis da manhã, tínhamos no local cerca de cem elementos do Corpo de Intervenção (CI) que levaram a efeito uma operação de fiscalização maciça, apreendendo milhares de contos de material contrafeito».

Este é, segundo o director nacional da corporação, Dr. Belo Morgado, em entrevista ao Expresso, «um exemplo paradigmático da nova filosofia de actuação» (sic) da polícia.

Seria de esperar que a centena de homens despachada para o Algarve identificasse e prendesse os autores da agressão. Não: foram-lhes à mercadoria. Retaliação indiscriminada, intimidação generalizada. Muito edificante.

Além de que outra conclusão pouco educativa é possível: não tivessem «alguns feirantes» cometido a agressão e o CI ficaria em Lisboa e os «milhares de contos de material contrafeito» lá se transaccionariam.

É, de facto, toda uma filosofia. O Dr. Morgado revela-se, aliás, um filósofo que está ali a desperdiçar-se. Dos «ciclos políticos» à prostituição, dos «valores de Maio de 68» às «lacunas» do «ordenamento jurídico» nacional «pouco consentâneas com a desejável eficácia policial» (sic), as suas respostas revelam filosofia por todos os lados.

O que ela não se apresenta é especialmente nova.

Pelo contrário.