1. Foi um belo espectáculo, o da abertura, na passada 4ªfeira, do 3º Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas (FIMFA 3), com um trabalho do inglês Stephen Mottram, que, durante uma hora nos deixou suspensos de diferentes marionetas e bandas sonoras, do movimento, da beleza do pormenor e dos sentimentos expressos, apoiados num aparente emaranhado infindável de fio.
Companhias profissionais de oito países, apoios diversificados que revelam a determinação em manter este festival vivo, desta vez numa co-produção de Luis Vieira/ Tarumba e Teatro Taborda/ EGEAC (ex-EBAHL), uma exposição eslovaca com visitas guiadas para escolas ( atenção, professores e pais...), e oficinas por três dos artistas representados, lá estarão à vossa espera no teatro da Costa do Castelo, até 15 de Junho.
Na estreia a sala estava cheia. Significativamente de jovens de 20-30 anos, sendo que os mais velhos eramos uma meia dúzia. Promissor e revelador do crescimento do interesse por esta arte, mais do que romaria de um público específico.
Parabens ao Luis Vieira, à Mónica Almeida e a todos os que o tornaram possível.
2. Mas outros “festivais “ ocorreram nesta semana autárquica.
Nos Paços do Concelho, em sessão pública diante da imperturbável República, a honra e dignidade da Câmara foram defendidas contra os vereadores que se fazem substituir nas sessões (ora toma!), por vereadores suplentes, passando-se ao lado da matéria substantiva que dá mais ou menos dignidade: o trabalho de quem tem competências delegadas e o nível de intervenção dos vereadores, pelo contributo que dão, estejam ou não na oposição, para as reuniões terem conteúdo, as discussões serem concretas e esclarecedoras, contribuindo, não poucas vezes, os da oposição, para darem achegas que corrigem erros ou ilegalidades de que as propostas são portadoras ou que introduzem novas ideias que as enriquecem. Já que às propostas vindas da oposição a actual maioria tem dito não, porque ela é que está a governar, com o seu programa, e assim é que deve ser, para todo o sempre, blá, blá, pardais ao ninho e a oposição no seu cantinho. E assim navega a dignidade do órgão a esta velocidade de cruzeiro, sem brisa na vela e com a necessidade dos motores de uns números avulsos.
Numa reunião que se desdobrou por duas sessões, lá voltou a “permuta” , com a Feira Popular, dos direitos de construção ( inaceitáveis pelo PDM) dos actuais proprietários do Parque Mayer, sem estudo económico e passando por cima de quem deviam ser os principais interlocutores – a Fundação “O Século”, que deu continuidade à obra social da “Colónia Balnear Infantil O Século”, e a quem foi cedida a Feira Popular, criada para financiar aquela obra... Lá voltou a proposta de revisão do PDM, tendo-se chamado a atenção para a revisão já anteriormente começada. E que acabou por ser retirada... Lá foi desconsiderado o presidente da EPUL nomeado pelo actual Presidente da Câmara...Lá se absteve o Vereador Pedro Pinto no túnel do Rego, com suspensão da votação, e posterior validação, por uma mensagem de telemóvel não ter sido ouvida em tempo útil pelo edil...Lá foram regularizadas as “dívidas” à EMEL, a que já aqui nos referimos, e as cedências para construções de parques (necessários), sendo que à colectividade Magalhães Lima foram feitas promessas que a compensassem da actual não observação de compromissos com a anterior vereação...Um director municipal pôde criticar vereadores da oposição a propósito de uma proposta em tom pouco curial... A vêr vamos se um dia destes alguém se lembra de usar a Polícia Municipal contra esses vereadores incómodos...
Salvou a situação a agradável invasão da sala pela marcha infantil do CCR do Cruzeiro e Rio Seco, que vinha convidar Presidente e Vereação para o espectáculo das 48 marchas infantis que, no próximo dia 28, em Belém, vão mostrar aos adultos como se dança.
A actividade de oposição a este Presidente e a práticas da sua equipa executiva não pretende dificultar a governação, tem sido construtiva e não é um exercício de aquecimento. É direito conquistado, por eleição, é compromisso com quem nos elegeu, é exercício que decorre de larga experiência, a que não se quer obrigar os actuais responsáveis executivos, mas que permite evitar a leviandade do falar barato. Pensamos que, com isso ganha a cidade. Mesmo que lhes tenhamos que dizer que, governar uma cidade transcende e não se confunde com discutíveis objectivos, de um ou dois mandatos, como o Casino ou o Túnel das Amoreiras., O afagar o ego de um dirigente é importante mas mais importante é resolver paulatinamente os problemas dos munícipes.
3. Não foi com surpresa, mas com preocupação que ouvimos do INE as perspectivas de diminuição da natalidade e do peso dos jovens na sociedade!
Bem se poderão repetir discursos de circunstância e disputas sobre se foram coerentes políticas para conter os jovens na cidade. A questão é muito mais grave e profunda e as políticas anti-recessivas, se vierem, poderão já não impedir o fenómeno: no próximo meio século, a população jovem da cidade irá descer cerca de um terço. Razões? A saída cada vez mais tarde da casa dos pais, o atraso na constituição de família, novos agregados familiares menos consistentes por carreiras mais absorventes e vidas mais desarticuladas, o alargamento da escolaridade e a falta de emprego, manutenção de habitação a preços especulativos, serviços públicos menos acessíveis.
E é também por isto que é cada vez menos suportável o delírio verbal, a fugacidade de anúncios de coisas que não são para fazer, dizer hoje o contrário do que se vai dizer amanhã, apenas porque the show must go on. E cada vez mais importante a resposta aos problemas concretos, o arregaçar de mangas, o trabalho miúdo, silencioso, prolongado, participado, sem descanso nem cedências, a serenidade.