&quot;Encanecido&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Primeiro foi o envolvimento de Paulo Portas na escandaleira da Moderna. O Prestige e a guerra do Iraque fizeram diminuir a atenção sobre a Amostra, mas o alinhamento do Governo com Bush Jr. marcou um momento de maciço afastamento, relativamente à política de Durão Barroso.

Embora, numa primeira fase, o escândalo Casa Pia mobilizasse a opinião, quer a catadupa de casos da corrupção, quer o arrastamento do processo da pedofilia, quer as vicissitudes judiciais e as tortuosas questões do segredo de justiça criaram um evidente mal-estar nada favorável ao Executivo.

A tudo isto somam-se o descalabro da política económica, os sucessivos falhanços dos equilíbrios orçamentais e das «retomas», passando pela dramática situação social. E meio milhão de desempregados.

O «pacote laboral» veio deitar azeite no lume e desencadear uma vaga de lutas, além de pôr fim à pantanosa paz com Belém. Acumulam-se desorientações: confusões com taxistas e PEC, o consulado de Londres, os novos concelhos, o transformar a visita de Lula numa guerra aberta com as comunidades emigrantes, a penosa comédia dos blindados para o contingente da GNR, etc. O Governo só tem um ano - mas ninguém diria. Está bastante acabado.