&quot;E assim acabou&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

A Câmara de Lisboa admitiu pela primeira vez que não há qualquer garantia de que Lisboa possa ver renascer a Feira Popular. Pode discutir-se se os hábitos de consumo e diversão urbanos ainda justificam um recinto tipo Luna Park da Feira. Por mim, entendo que sim, mas admito que seja questão a debater. Por outro lado, a localização de Entrecampos ("provisória" desde 1961...) apresentava evidentes problemas que o desenvolvimento agravou. Mas foi na altura uma solução para compensar a cidade da perda de um equipamento único enquanto esteve instalado - de 1943 a 1957 - no Parque Vilalva, hoje Jardins Gulben-kian. Em 1958 e 59, a CML ainda tentou uma solução no Jardim da Estrela, mas os terrenos do antigo Mercado Geral de Gados permitiram, apesar de tudo, amplitude nos divertimentos mecânicos e a restauração, que o verde da Estrela impedia. Há anos que se falava em encontrar solução. Mas o que a Feira Popular não merecia era acabar no novelo de trapalhadas em que Santana envolveu Lisboa e o País. A Feira encerrou em 2003, enrolada nos disparates do Parque Mayer. Foram os tempos da palhaçada dos projectos, casinos, viajatas a Nova Iorque, arquitectos e negócios em que os terrenos de Entrecampos acabaram envolvidos. Há coisas bem mais graves, sem dúvida. Não há Parque Mayer. Mas não se esqueça que no torvelinho de irresponsabilidade em que deixou o País, Santana destruiu coisas tão simples, mas tão fundas quanto carrosséis, sardinhas e farturas da nossa memória.