A influência da extrema-direita religiosa na sociedade norte- -americana tem sido sublinhada, em especial, relativamente à política da Administração Bush para o Afeganistão e o Iraque.
A leitura do artigo Welcome to Doomsday, de Bill Moyers (New York Review of Books, 24 de Março), é um esclarecedor panorama do problema, tornado particularmente actual por uma medida tomada esta semana pelo Senado de Washington a abertura da reserva natural árctica à exploração de petróleo.
A questão fulcral do posicionamento desta nova direita é a sua leitura literal da Bíblia, numa interpretação que deixa o próprio Vaticano em desespero. "Teóricos" como Tim LaHaye ou Jerry Jenkins, através das mais de 1600 estações de rádio ou 250 estações de televisão que possuem, expõem nomeadamente que o Dia do Juízo Final é não apenas uma inevitabilidade como se aproxima a passos largos segundo uma série de "indícios" (que podem ser consultados nos sites da Net com o título geral Rapture). Claro que, chegado o Dia, tudo sucederá como anuncia o livro sagrado os crentes serão salvos e os incréus aniquilados.
Aparentemente, nada de novo, salvo o "calendário" mais ou menos milenarista, mas a "teorização" prossegue com a leitura novamente literal do Genésis, nomeadamente os versículos 26, 28, 29 e 30, que assinalam a entrega divina da Terra e de todos os seus seres vivos e recursos ao Homem "para mantimento". O que "prova" que é permitido ao Homem (leia-se, aos Estados Unidos...) explorar como e quando quiser os recursos planetários se Deus lhe concedeu esse "direito", tais recursos não se esgotarão ou, pelo menos, não se esgotarão antes do dia do Juízo Final que se aproxima! A preocupação ambiental é assim pecaminosa.
Tudo isto parece pueril, mas é neste quadro que, derrotando uma luta de dezenas de anos, o Senado abre 10% da Reserva Natural do Árctico, no Alasca, aos consórcios petrolíferos.
Como escreve Moyers, "uma vez mais, o populismo religioso navega ao sabor dos interesses das elites económicas".