13 de Junho de 2003
Na impossibilidade de desmontar toda a enxurrada de falsificações, intrigas e sofismas espalhados em torno do 1º Fórum Social Português, apenas algumas anotações essenciais sobre o tema.
Em primeiro lugar, para sublinhar que, na cabeça de algumas pessoas e estruturas que se imaginam donos dos Fóruns Sociais ou representantes nacionais de uma espécie de novo «centro dirigente» internacional, desde o princípio até ao fim o que esteve foi uma obsessiva preocupação de discriminar os partidos (leia-se, o PCP) e criar uma estúpida fractura e conflito entre estes e os (nem sempre bem chamados) «movimentos sociais».
E a tal ponto que até um sociólogo e professor universitário parece estar a precisar de aprender que os partidos não são invenções do demónio nem instituições do Estado e são sobretudo associações de homens e mulheres estavelmente vinculados a ideias e projectos políticos e que, a seguir aos sindicatos, até são certamente das organizações que maior número de cidadãos agregam e mobilizam.
Por outro lado, só uma imensa desfaçatez pode explicar que até grupos de amigos, siglas com uma dúzia de activistas e movimentos de facto políticos (mas que preferem chamar-se de «sociais») – todos respeitáveis e cuja contribuição o PCP jamais desvalorizou - tenham sido sempre tratados na imprensa como esplendorosos e pujantes «movimentos sociais» mas já importantes organizações sociais com um incomparável papel e intervenção na vida nacional – como, entre outros exemplos, a CGTP ou a Confederação Nacional da Agricultura – já tenham sido qualificadas de «organizações satélites» do PCP.
De caminho, o reduzido espírito democrático e o nulo «fair play» de alguns também os levou a que se algumas organizações envolvidas na preparação e realização do FSP concordam com as suas posições, logo ganham direito a ser consideradas como dotadas de irrepreensível «autonomia» e «independência». Mas se têm e manifestam opiniões diferentes logo passam à triste categoria de controladas e instrumentalizadas por terceiros.
Mais: fiados na impunidade das intoxicações que vendem a jornalistas, alguns pretenderam mesmo apresentar com toda a naturalidade que um 2º Forum fosse convocado por uma instância – a Assembleia dos movimentos sociais - que não era parte integrante do FSP mas uma realização paralela e convergente, que não tinha convocado esta primeira edição do Fórum e em que os partidos, só aí, apenas tinham o estatuto de observadores. E isto sem nenhum debate democrático e decisão colectiva nas direcções das diversas organizações e, com todas as consequências futuras, afastando dessa decisão os partidos – como o PCP – que, em pé de igualdade com todas as outras entidades, tinham sido promotores do 1º Fórum Social Português.
De igual modo, é de uma total desfaçatez que algumas pessoas e grupos tenham pretendido responsabilizar o PCP pelos desfiles separados de dia 10 de Junho, quando foram eles que, através da proposta mais burocrática e dirigista que jamais se viu sobre a organização de um desfile, quiseram colocar os partidos no fim, quiseram colocar o movimento sindical atrás de si próprios e se recusaram a aceitar a proposta, apoiada pelo PCP e absolutamente equitativa e democrática, de que, à cabeça do desfile estivessem representantes de todas – mas de todas – as organizações, estruturas, associações e movimentos envolvidos na realização do FSP. E que, mesmo quando o PCP, por decisão própria e soberana e não por imposição alheia (o que faz toda a diferença), admitiu já na Avenida da Liberdade desfilar no fim para salvar a unidade do desfile, ainda assim persistiram na separação, na divisão e no confronto pela simples razão de que era essa «a notícia» e o «facto político» que queriam.
E, depois, resta esse momentoso problema das «bandeiras comunistas» inventado por aqueles que ainda não perceberam da sua legitimidade em iniciativas também convocadas pelo PCP, que ainda não repararam que as bandeiras não andam sozinhas e que não conquistámos a democracia há 29 anos para que os cidadãos sejam agora proibidos de usar os símbolos das suas convicções político-partidárias.