A decisão do primeiro-ministro de espalhar meia dúzia de secretarias de Estado de norte a sul do País merece mais alguma atenção além do seu evidente perfil anedótico.
A questão essencial é que se assiste a um exemplo estentórico não apenas de demagogia, mas de total irresponsabilidade. Em rigor, deslocar um serviço público, seja ele uma secretaria de Estado ou qualquer repartição não é, em si próprio, nem bom nem mau. Pode justificar-se ou não, pode resultar ou não, ser feita com rigor e eficácia ou não. Mas evidentemente que não pode, em nenhuma circunstância, ser uma decisão tomada do dia para o outro.
Mesmo que se admita como metodologia política que tais deslocações se enquadrem ou dinamizem um processo de descentralização (e chegar a essa conclusão requere tempo e análise incompatíveis com o estilo adoptado), haverá uma multidão de questões a compulsar.
Que serviços deslocar? Porquê? Para quê? Como? Para onde? Com que planificação? Com que calendário? Com que orçamento? Com que quadro de pessoal? Com que definição de objectivos? Que melhor localização, para além de parvoíces casuísticas do estilo «turismo fica bem no Algarve» ou património em Évora!
O problema é que, uma vez mais, isto cheira a túnel do Marquês ou a casino no Parque Mayer. Primeiro, dizem-se umas frases; depois, ficam os buracos. E a questão é que com Santana até os temos de dois tipos: terra esventrada a céu aberto e finanças esgotadas nas tesourarias.