&quot;Das graças e desgraças&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

O resultado do congresso do PSD vai ter um aspecto de imediata e aparentemente determinante importância e um outro que será necessário esperar para ver. O primeiro é o da escolha do líder, assunto que, em boa verdade, não parece especialmente excitante a larga maioria de delegados favoráveis a Marques Mendes dá esse assunto por encerrado desde a semana que agora termina. Contudo, esta evidência não torna irrelevante a forma como as coisas se passarem e, em especial, a conflitualidade que, pese o desequilíbrio, se verifique. Porque o fundamental não é se Marques Mendes vai liderar a oposição de direita ao Governo PS: é saber em que circunstâncias o vai fazer – e aqui as interrogações são múltiplas.

O facto de Luís Filipe Menezes não surgir com quaisquer possibilidades não significa que tudo esteja desde já clarificado. O grau de discordâncias que, de forma mais ou menos clara, se verificar entre os dois candidatos não se esgota no que disserem ou fizerem as suas directas bases de apoio: como é natural, em torno de Menezes e Marques Mendes alinham-se outras expressões do complexo mosaico político e pessoal do PSD, mas é evidente que tal alinhamento é puramente circunstancial. Nada tem de estável a curto, médio prazo e dessa estabilidade ou ausência dela largamente dependerá o real significado e condições de funcionamento do formal triunfador de hoje.

O quadro adquire contornos ainda mais florentinos quando se considera a presença de António Borges e de tudo quanto se passa em torno da sua definição enquanto sucessor de um presidente que ainda nem sequer o é... O que se passar com o PSD após Pombal (escolha seguramente feita dentro do histórico e pombalino pressuposto de que há que enterrar os mortos e cuidar dos vivos...) não interessa porém apenas aos seus militantes e eleitores. As desgraças sociais-democratas poderão ter o perverso efeito de o Governo Sócrates lhes achar muita graça e as inerentes impunidades em executivos socialistas costumam dar origem a políticas francamente pouco engraçadas.