Apeteceria qualificar o momento de estonteante lucidez que o director do «Expresso» produziu sob o título «O papel masculino». A grácil redacção de J. António Saraiva merece ser considerada na linha de juízos com alguma transversalidade, de Prado Coelho a M. Sousa Tavares ao tom geral de crónicas e reportagens.
O traço essencial é a constatação, indisfarçavelmente surpreendida, do desastre das recentes intervenções de Santana: tomada de posse do Governo e debate na Assembleia. Dela resultam, conforme os casos, juízos a confirmarem reservas à decisão de Sampaio ou preocupados vaticínios sobre o futuro do Executivo.
Esta convergência desperta uma dúvida e justifica uma advertência. No fundo, o que está por trás da perplexidade é a maior ou menor coincidência no juízo de que a qualidade em política está directamente associada à qualidade oratória. Santana anda há 25 anos num eficaz funambulismo oratório – donde, é um bom político.
Se Santana Lopes se tivesse palavrosamente desembrulhado (ou remetido a um criterioso silêncio, como De Gaulle lhe recomendaria…) – ele, o Governo e a sua política passavam porventura a ser melhores?! Mais prometedores? Mais eficazes? Dignos de maior confiança?
Quanto à advertência: Santana ter-se espalhado retira alguma gravidade à anunciada e confirmada política de direita dele, mais de Bagão, Barreto, Mexia, Portas e «tutti quanti»?!