&quot;Conveniência patronal &quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

O arrogante documento das confederações patronais apresentado na quinta-feira é um texto ameaçadoramente significativo. Muitos aspectos merecem atenção, mas a comunicação social salientou que os patrões "fizeram críticas aos partidos" por entenderem que "actuam por conveniência política e não por conveniência do País e dos cidadãos". Sendo certo que o que caracteriza um patrão é ser proprietário e não saber português, o problema é perceber o que querem as confederações dizer. O papelinho empresarial não fala em "conveniência própria", "conveniência partidária", "conveniência pessoal" fala em "conveniência política". É elementar admitir que, a fazer política (ou qualquer outra coisa), há que fazê-la convenientemente e que quem a executa procura que os seus actos sejam convenientes para a mesma. Cometer uma inconveniência política é fazer um erro, um disparate: do bom político se pretende que actue de forma conveniente para a sua política e mais ainda se tiver sido sufragada pelo eleitorado. Por outro lado, pode admitir-se com tranquilidade o conceito de que a política é um conjunto de actos que visa "a conveniência do País e dos cidadãos", boa quando o concretiza, é má quando o não faz. O povo exige exactamente uma política conveniente, que o sirva a ele e ao País. E o País e os cidadãos têm motivos para duvidar destas preocupações, exigências e ameaças vindas de um patronato desde sempre e implacavelmente empenhado na defesa das suas próprias... conveniências.