Segundo os jornais, José Sócrates fez uma afirmação aparentemente espantosa a de que, sejam eles quais forem, respeitará os resultados eleitorais! A coisa parece uma tontice com créditos a dividir entre Sócrates e os autores dos títulos - mas a questão talvez não seja tão inocente. Porque "respeitar os resultados eleitorais" pode, na verdade, ter diversas leituras, longe de insignificantes. Se o PS não tiver maioria absoluta, for o partido mais votado, mas, na improvável hipótese de ter menos votos que PSD e CDS juntos, que entende Sócrates por "respeitar os resultados eleitorais"? Do ponto de vista constitucional, é inequívoco que, nesse quadro, o Presidente da República convidará o PS para constituir Governo, tendo aquele que optar por uma de várias soluções: fazer um Governo minoritário ou procurar acordos à esquerda para garantir maioria no Parlamento. Mas a questão é que podemos estar face a uma forma enviesada e chantagista de Sócrates dizer que só constituirá Governo se tiver maioria absoluta! Porque, se assim não for, "respeitará os resultados eleitorais" - que não lha deram! Há que admitir teoricamente que o PS se disporia ao absurdo de transformar uma derrota da direita na possibilidade de PSD e CDS voltarem ao poder por desistência do PS, "respeitando os resultados eleitorais"! Políticos que se propõem realizar políticas "se" não são seguramente o que a esquerda precisa: necessários são os que, em todas as circunstâncias e como é o caso da CDU, garantem que vão à luta pelos compromissos que assumem.