Depois do espectáculo dado pelas televisões na Boa Hora, seguramente milhares de portugueses se colocam uma pergunta premente: como é que se resolve isto? Não é explicar o que é «isto». A coincidência de o processo Casa Pia começar a ser julgado num dia de transmissão de desafio de futebol teve até uma consequência perversa: a alteração do horário do telejornal da RTP1 deu origem a que as imagens da balbúrdia do Largo da Boa Hora se prolongassem nos ecrãs nacionais de forma praticamente ininterrupta das 19 às 24 horas!
Imagens de quê? Rigorosamente de nada. Qual o interesse noticioso de Carlos Cruz tomar um café na Brasileira e descer o Chiado para ser acompanhado por um batalhão de jornalistas? Ou melhor: em qualquer país civilizado, considerar-se-ia inexplicável evento umas dezenas de profissionais correndo rua abaixo para esclarecer quantos sacos de açúcar usara a figura! E que dizer de fazer da banalíssima e óbvia chegada de um carro celular um «acontecimento»?
E há pior. A câmara de televisão deixa de ser repórter do facto para passar a ser a sua catalisadora. A câmara aparece, logo meia dúzia de circunstantes conquistam o seu minuto de celebridade à custa de se comportarem como um bando de selvagens. Como é que se resolve isto? E é melhor que sejam os próprios profissionais a pensarem no problema; não tardará que alguém o queira fazer por eles.