É Natal. E decididamente, o mercado tem razões que a razão desconhece.
O aparecimento das compras a prestações não foi, admita-se, uma coisa ao arrepio do razoável. No fundo, tratou-se de substituir a compra de um objecto mediante o aforro prévio por alguns meses (ou anos) pela compra prévia do objecto e pagamento posterior ao longo de alguns meses (ou anos). Claro que tal operação se fazia - e faz - mediante a cobrança de um juro. Desculpada com a inflação («Daqui a dois anos, esta prestação vale metade» foi argumentação muito ouvida) correspondeu ao desenvolvimento do negócio puramente financeiro: a acumulação de capitais permite, tanto quanto exige, torná-los rentáveis rapidamente e em si próprios. O que antes era investimento reprodutivo ou usura desesperada e secreta passou a «negócio de crédito financeiro».
O mercado tem agora uma nova expressão: compre agora e pague só daqui a quatro meses - sem juros. Destes quatro meses, claro.
Mas o que é que garante que, daqui a quatro meses, eu tenha o dinheiro que agora não tenho para pagar as prestações do que comprei - mais os juros?
A Dra. Manuela Ferreira Leite bem podia explicar como é que a sua política criou esta novidade - e para quê, tal como a sua política, ela serve.