Cavaco Silva sai à liça com crescente contundência, o que não será grande factor de surpresa. Há mesmo que reconhecer à operação algum mérito: ao demarcar-se cada vez mais do Governo Santana-Portas e da sua política, Cavaco simultaneamente regressa à ribalta (como liminarmente exigiriam ambições presidenciais) no que toca à sua família social-democrata, mas simultaneamente ocupa espaço que tendencialmente seria destinado a quem se propuser presidenciável na área da oposição.
Cavaco retoma ainda um tema que foi caro ao seu consulado: a meritocracia associada ao êxito empresarial, o que é evidentemente simpático de ouvir para as associações patronais.
Na opinião de Cavaco, as «elites profissionais» devem, «por interesse nacional e também dever patriótico», contribuir para que «na vida partidária portuguesa os políticos competentes possam afastar os incompetentes». Para tão saudável desiderato desde já propõe uma medida: «Aumentar a remuneração dos agentes políticos, por forma a atrair quadros de reconhecido valor e que vivem dos rendimentos do trabalho» (sic).
O raciocínio, diga-se, não é novo, nem é bom: se se verificar o aumento de remuneração, parece óbvio que os «políticos incompetentes» terão redobradas razões para se agarrarem com unhas e dentes, o que não constituirá forma de facilitar que «políticos competentes» – mesmo que patrióticos - lá cheguem...