&quot;Até quando?&quot;<br />Honório Novo no &quot;Jornal de Notícias&quot;

Nem toda a proverbial imaginação de Marques Mendes foi capaz de amortecer as ondas de choque provocadas pelo discurso de Portas na rentrée do CDS. Ele bem se esforçou, lá anunciou (mais um) combate à evasão fiscal, outro debate sobre a "Constituição Europeia" (com a participação de dez milhões de portugueses!...), e, claro, a "reforma do século" na Administração Pública…

O esforço foi grande, mas desta vez quase ninguém lhe ligou. O calor do Verão (e dos fogos) devem-lhe ter diminuído a tradicional capacidade para criar factos novos. Desta feita, só conseguiu repetir anúncios, baralhar e dar de novo alguma propaganda estafada, anunciar utopias virtuais. Convenhamos que não era tarefa fácil fazer melhor. É que o Governo já nada de bom tem para anunciar aos portugueses e, por outro lado, era quase impossível calar os ecos dos comentários suscitados pelas "bocas" de Paulo Portas.

Não julguem, portanto, que foi apenas Pacheco Pereira a chamar xenófobo e racista a Paulo Portas. Se assim tivesse sido, até se não estranharia, tantas foram já as vezes em que o deputado do PSD comparou com Le Pen o líder do partido com quem partilha o Governo. Não, não foi apenas Pacheco Pereira! Antes, já os corredores de S. Bento "emprenhavam em surdina" outros mimos com que muitos membros da maioria parlamentar brindaram o ministro da Defesa.

O que resulta desta incontida e generalizada contenção verbal é uma pergunta óbvia: até quando? Até quando é que todas estas vozes, toda esta indignação e repulsa contra o radicalismo ultramontano da Direita radical personificada por Portas, se manterá em surdina? Até quando se conseguirá conter toda esta raiva vociferada no silêncio dos corredores de S. Bento?