Que se saiba, nenhum dos Governos de Portugal nas últimas décadas caiu por qualquer fenómeno democraticamente anómalo. Perderam eleições - tão-só. Note-se que foram suportados por várias maiorias. Além das duas absolutas de Cavaco Silva, o do Bloco Central tinha uma confortável maioria, o PSD/CDS tinha outra, e o eng. Guterres saboreou uma maioria na base do lacticínio limiano. Todas estas maiorias - incluindo as absolutas e nas quais estiveram envolvidos PSD, PS e CDS - se esboroaram e atingiram as eleições em que foram derrotadas em estados internos de desagregação que tornavam o resultado das urnas evidente. Ora não foi certamente por questiúnculas internas que todos estes Governos caíram. Caíram pelos motivos por que habitualmente os Governos caem as políticas que puseram em prática não mereceram a concordância do eleitorado, incluindo significativa parte do que o apoiara. Essa crítica às políticas seguidas teve, naturalmente, e no mais perfeito espírito democrático, expressões várias, que passaram pela acção cívica e política das populações à intervenção crítica nas instituições. Foi esta democrática contestação da política seguida que esteve sempre na origem do desagregar interno das maiorias - absolutas ou não - e abriu caminho às suas derrotas eleitorais. As eleitorais maiorias fundadoras dão direito a governar, mas o que dá estabilidade e eficácia aos Governos são as boas políticas. É assim tão difícil de perceber?