&quot;Aritmética de Coelho&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Num daqueles seus azedos e certeiros desabafos, escreve Jorge de Sena qualquer coisa como que o disparate constitui sem dúvida um dos mais mimosos direitos que assiste ao homem. Trata-se de um direito que Eduardo Prado Coelho exerce com denodo. No seu recente texto sobre o congresso do PCP estatela-se num trocadilho abjecto sobre a terra de naturalidade de Jerónimo de Sousa, o qual, segundo EPC, «não diz nada que tenha o menor sentido nos tempos actuais». Isto depois de o congresso ter renovado a exigência de demissão de Santana Lopes numas muito actuais 48 horas antes de o Governo ser despedido... mas Eduardo fez uma descoberta notável: o PCP em geral, e o seu congresso em particular, é constituído por «um grupo respeitável de avós dos amigos de Alex». Sucede que Lawrence Kasdan, realizador do celebrado filme, conta hoje 55 anos, os principais intérpretes oscilam entre os 52 de Jeff Goldblum e os 57 de Glenn Close. Os seus avós terão, assim, no mínimo, à volta de 100 anos... sendo que mais de metade dos delegados ao congresso tinha menos de 50, que idêntica circunstância se passa com mais de 35% do conjunto dos militantes do PCP, o comentário de Prado Coelho é apenas mais uma parvoíce. Mas, no fundo, a coisa até se percebe: os «amigos de Alex» (de que EPC é passável exemplo) tendem a confundir tudo, das datas aos princípios, a desiludirem-se com o seu passado e a baralharem-se com o seu presente.