Muito se tem discutido em Portugal nos últimos meses sobre as questões da justiça, o seu funcionamento, as suas dificuldades, as suas contradições.
De um lado, o mundo da justiça, dos tribunais, das leis, dos advogados, dos juízes. Funcionam entre si, com regras próprias e estruturas próprias, bastante ciosas aliás de existirem e manterem uma quase intocável autonomia.
De outro, a vida normal, o bom senso, o quotidiano, aquilo que o dia-a-dia requer e sugere.
Ora, o bom senso do comum dos cidadãos tem tido razões para se surpreender quanto ao que poderíamos chamar o simples bom senso da nossa justiça.
Consideremos o caso do gang do vale Sousa.
Qualquer pessoa compreende que um criminoso matar um polícia é de extrema gravidade.
Um assassínio é sempre um assassínio, seja quem for a vítima, mas sucede que um agente policial é uma entidade a quem nós todos, a sociedade, atribuímos a função de nos defender, recorrendo à força se o necessitar. A violência que o agente policial pode exercer é, assim, nele delegada pelos cidadãos. Se no decurso de um incidente violento esse agente policial é morto, da mesma forma que a violência que podia ter exercido havia sido por nós delegada, a morte de que foi vítima atinge-nos a todos.
A gravidade do problema é compreensivelmente sentida pelas polícias face aos recentes assassínios de três agentes da PSP, a investigação policial respondeu com evidente diligência. Compreende-se claramente que a polícia seja num caso destes de uma eficácia que até não terá noutros. Para um polícia, assassinarem um polícia é gravíssimo.
Para um juiz não é?