Quando estas linhas conhecerem a luz do dia e merecerem porventura a generosa atenção de alguns leitores, faltarão apenas quatro dias para o início da votação das eleições para o Parlamento Europeu.
Nesse contexto, a nossa 1ª proposta, sem absurdos fingimentos de uma isenção ou neutralidade que nem os que mais disso se reclamam têm, é a de que muitos cidadãos ainda possam aproveitar o tempo que falta para se orientarem contra a maré alta de equívocos, distorções e ideias preconceituosas que por aí tem andado a circular.
A nossa 2ª proposta é a de que muitos cidadãos, sobretudo à esquerda, possam ainda ter um sobressalto de consciência e de espírito crítico que os leve a perceber que ficar prisioneiro de sondagens (todas altamente falíveis e precárias por natural indeterminação do nível real de abstenção) é prescindir daquilo que é mais sagrado e nuclear na cidadania e na soberania popular. Ou seja, a afirmação clara e convicta de um juízo e de opções próprias que não se rendem nem alinham pelas supostas ou reais opiniões de terceiros.
A nossa 3ª proposta é a de que muitos eleitores, sobretudo à esquerda, possam ainda descobrir que esse corrente desabafo ou grito de alma de que “eles são todos iguais” não resiste de facto ao apuramento rigoroso das diversas posições, orientações e atitudes. E é sobretudo particularmente vantajoso para os que merecem ser eleitoralmente castigados, ao mesmo tempo que é particularmente injusto para os que marcam real diferença nas propostas, no honrar dos compromissos assumidos em anteriores eleições, na intransigente defesa do interesse público e dos interesses nacionais, na luta que travaram contra cada um e contra todos os aspectos mais gravosos e injustos da política que tem sido imposta ao país.
A nossa 4ª proposta é a de que muitos eleitores, de qualquer quadrante, possam ainda pelo seu voto dar uma lição à patente hipocrisia de muitos comentários e opiniões veiculados nos “media” que, por um lado, insinuam quase sempre que ser deputado ao Parlamento Europeu é uma espécie de “reforma” ou “exílio dourado” e, por outro, como não podem negar o imenso e qualificado trabalho feitos pelos deputados anteriormente eleitos pela CDU, logo procuram desvalorizar esse facto resumindo-o a uma questão de mania do “zelo” ou “frenesim”.
A nossa 5ª proposta é a de que muitos cidadãos, sobretudo à esquerda, possam ainda perceber que não dá nenhuma segurança para o futuro ver um partido como o PS, já que em quase nada pode divergir do PSD em matéria europeia, centrar quase toda a sua campanha na crítica às, de facto, detestáveis orientações do CDS-PP e à sua presença na coligação de direita, assim branqueando relativamente o PSD. E só fazendo isto porque sabe que ao CDS-PP não convém lembrar agora quanto, entre 1995 e 2002, os governos do PS apreciaram a “postura responsável” e a colaboração do CDS-PP, seja sob a direcção de Manuel Monteiro, seja sob a chefia de Paulo Portas. E, deste tópico, o que sobressai é a vantagem de um voto que reforce os que combatem estável e firmemente a direita e os seus partidos agora coligados, por razões de fundo e de alternativa política e de projecto, e não ao mero sabor das conjunturas e das conveniências tácticas.
A nossa 6ª proposta é de que, sobretudo à esquerda, muitos cidadãos compreendam como são completamente artificiosos os apelos velados ou explícitos - do PS no sentido de que, para derrotar a coligação de direita, seria necessário concentrar votos no PS. Na verdade, a derrota da coligação PSD-CDS/PP ficará automaticamente assegurada, não pelo critério da força mais votada, mas pelo facto de ter menos votos que a soma dos votos recebidos pelos partidos da oposição. É isso que mostrará a sua perda de apoio eleitoral por relação com as eleições de 2002 e a correlação de forças que delas saiu. A este respeito, é bom não esquecer que a grande impunidade do actual Governo, o caracter implacável da sua política e a dificuldade de lhe aplicar derrotas no Parlamento não resultam de o PSD ter sido o partido mais votado nas últimas legislativas mas sim de ter, pela aliança com o CDS, garantido uma maioria absoluta de deputados. E, de um forma mais elementar, é preciso lembrar que os votos e deputados que a CDU tiver são sempre votos e deputados que a direita não terá e que, também por isso, contribuem sempre de forma segura e certa para a derrota eleitoral da direita.
Por fim, a nossa 7ª proposta é a de que todos os que, semana após semana e mês após mês, se indignaram e sofreram com as constantes agressões do Governo de Durão Barroso e Paulo Portas ainda possam, nestes restantes quatro dias, descobrir que, domingo, é dia de nada esquecer e de nada lhes perdoar. E de os atingir onde mais lhes dói – nos votos – e da forma que mais lhes doerá – com o voto na CDU.