Crises e disfunções nos aparelhos policiais são sintoma de alarme. Seja nas estruturas vocacionadas para o exercício da violência, seja nas dirigidas à obtenção de informações, elemento indispensável à sua acção na complexa sociedade contemporânea. O monopólio da violência é constitutivo do Estado e quando um elemento destes entra em crise é legítimo supor que um conjunto de que é estruturante entra em crise também. A evolução económica e política gerou a divisão dos aparelhos estatais de violência em duas áreas: as Forças Armadas, vocacionadas para a conflitualidade envolvendo o País, e as forças policiais, vocacionadas para os problemas internos. A gravidade e profundidade das situações que envolvem as primeiras são superiores, mas a vida social e política de um país acaba muito mais ligada à conflitualidade diária e de baixa intensidade gerida pelos aparelhos policiais. Quando estes sofrem crises, tal afecta desagregadoramente as relações, funcionamentos, compromissos, regras que tornam possível o tecido social, seu funcionamento e sobrevivência. Os problemas das polícias e serviços de informações em vários países, e claramente em Portugal, ao reflectirem dificuldades no funcionamento do Estado, revelam deficiências e degradação da prática da sua gestão - ou seja, da política. Os problemas das polícias são problemas do Estado e os problemas do Estado são da instância política. Quando ele funciona mal, a solução indispensável é mudar de política.