&quot;A palavra&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

É facto adquirido que as palavras fazem o vivermos em sociedade e o vivermos em sociedade faz as palavras. A sociedade exige e constrói as linguagens.

A comunicação, individual ou social, faz-se basicamente através da palavra. O preceito normativo social - i. e., o Direito - concretiza-se basicamente através de palavras.

Todos aqueles que assumem uma protagonização social enfrentam acrescida responsabilidade pelo uso da palavra, elemento incontornável do seu relacionamento com a sociedade e da sua comunicação com os outros.

Não sendo socialmente irrelevante, seria questionável que um órgão de comunicação social divulgasse que o pres. do Tribunal da Relação de Lisboa, face a uma negativa a Matemática do filho, lhe dissera à sobremesa: «O menino é uma merda e rebento-lhe as fuças se volta a ter esta nota.»

Mas como avaliar o facto de, numa cerimónia pública de que é, no exercício das suas funções, protagonista e para a qual foi convidada a Comunicação Social, o profissional da palavra que é juiz presidente do Tribunal da Relação de Lisboa dizer, referindo-se aos instrumentos de trabalho da comunicação social, que «rebenta com essa merda toda»?