&quot;A Orquestra Santana de Lisboa&quot;<br />António Abreu no&quot;Público&quot;<span class="titulo1">

Leu-se há dias no ‘Expresso’ que seria intenção do Presidente da CML criar uma nova e enorme orquestra em Lisboa. Muitas vezes lêem-se nos jornais outras intenções da CML.

Apesar de ser vereador da CML, eleito pelos lisboetas, que direito tenho eu de saber os altos desígnios do prefeito sem ser pelos jornais?

Aos ungidos dessa qualidade de líderes, é permitido avançar livremente com o que lhes vier à cabeça. Tenham ou não cobertura orçamental. Conste ou não no respectivo programa eleitoral. Arrematando mecenas de peso. E sem cuidar dos efeitos no panorama existente de três orquestras (Gulbenkian, Sinfónica Portuguesa, Metropolitana de Lisboa), para já não falar nas outras oito que não são permanentes e na viabilidade de festivais que ainda não estavam suficientemente rentabilizados em termos de imagem e de um benemérito.

A cartola ainda tem espaço para mais coelhos e o segredo é a alma do negócio. São incorrigíveis os que se questionam sobre que projecto tem para a cidade. Ele tem todo o direito de ter os seus segredos que vai revelando na proporção directa da verificação de que nada aconteceu na sequência de anteriores revelações, por vezes ilustradas com aparições.

Como a Orquestra Metropolitana já tem maestro e obra feita, quem tira ao prefeito o direito de a ir matando para dar vida a algo que lhe dê mais fama e glória? Não deixando de renovar o convite ao maestro para retomar funções, quem pode negar ao prefeito o direito de ter a ‘sua’ orquestra? Sim, porque quem não enjeita ser um novo Pombal tem o direito de ver toda a ambição realizada. Mesmo que isso custe liquidar a obra de outros. Demitir. Desestabilizar. Insinuar. E fazer com que o prefeito melómano acene com três milhões e meio de euros, para nos dar música, a sua (!) música.

Depois das primeiras investidas contra a Orquestra Metropolitana, a pretexto de regalias de quem a dirige, as obrigações da CML têm sido cumpridas de forma arrastada, em coordenação com os Ministérios da Educação e da Cultura. Recentemente quem nela trabalha recebeu os salários de Dezembro. Os de Janeiro chegarão um dia.

A Associação Música-Educação e Cultura, na sequência de uma auditoria, concordou em proceder com a CML a alterações, recolhendo opiniões e sugestões quanto ao modelo de gestão e enquadramento estatutário da Associação (segregação de funções, mudança de regras estatutárias, regularização de procedimentos, maior eficácia no controlo das receitas e qualificação jurídica das questões laborais ou no tratamento das questões fiscais e contabilísticas). A auditoria não revelou ilegalidades nem outros fantasmas agitados pela prefeitura.

Não se tendo consumado o ‘orquestricídio’, a CML nomeou uma comissão para trabalhar na «sustentabilidade financeira e revisão de estatutos». Sobre a composição de tal comissão e suas relações com a música (o seu coordenador teve a franqueza de reconhecer que não era apreciador de música clássica...) se deverá falar quando for dado à estampa o seu relatório, apenas assinado por uma parte dos seus membros. Até lá, esperamos que não faça recomendações do género “para quê tantos violinos, se eles tocam todos o mesmo”...

Neste ambiente se foi vivendo. A Orquestra perdeu cinco dos seus melhores músicos, os receios regressaram aos pais, professores e músicos.

A notícia do ‘Expresso’ foi a declaração de guerra.

Eis que , enfim, chega a grande música !

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