A estrondosa derrota eleitoral da direita é a punição que o regime democrático estabelece para a má governação. Mas, à medida que o tempo decorre, a fraca memória da nossa política parece proporcionar uma insólita purificação dos seus responsáveis. A título de exemplo. Em Caxias parece ter epicentro um problema de milhões em prejuízo das finanças públicas criado pelos megalómanos projectos em torno das novas instalações para a PJ. Não só megalóma-nos, mas atravessados por ilegalidades e incompetências.
À semelhança do túnel do Marquês de Pombal, o correr do tempo só agrava o emaranhado de problemas. Terão sido assumidos compromissos de desocupação das instalações actuais da PJ para entrega a compradores já formalizados, o que muito plausivelmente não poderá ser feito nos prazos previstos, originando encargos, rendas, indemnizações. E os atrasos e alterações no projecto de Caxias envolverão inevitáveis custos junto de empreiteiros, fornecedores, etc.
Olimpicamente alheia a toda esta embrulhada, Celeste Cardona, que a criou enquanto ministra da Justiça indicada pelo PP do Dr. Portas, é administradora da Caixa Geral de Depósitos, nomeada pelo Estado, e lá está! A administrar muito, pela certa, com provas dadas... Por seu lado, o Dr. Paulo Portas foi o autor de umas mentirolas sobre a Bombardier e a sua recuperação tornadas particularmente revoltantes pelos acontecimentos dos últimos dias. Anunciou vitórias empertigado, nomeou assessores a peso de ouro - e desamparou partido e partidários com voz embargada. E eis que, como se todo natural fosse, parece perfilar-se a possibilidade de regressar como - comentador televisivo! É sem dúvida uma opinião consistente, sólida, equilibrada...
Faz parte das frases feitas da política norte-americana a cortante pergunta que assinalou o fim de Joseph McCarthy, quando, no final das alegações, o advogado de uma das suas vítimas o interpelou "Sir, have you no sense of decency?!" Ora talvez aqui tenhamos uma coisa americana que vale mesmo a pena importar: a simples pergunta sobre o que é feito da noção de decência.