&quot;A &laquo;conferência&raquo;&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Na passada quarta-feira, as três estações nacionais de televisão generalista (incluindo aquela cuja defesa se tem feito em nome do serviço público) dedicaram mais de 30 minutos de prime time (incluindo aluguer de satélite), a uma operação desencadeada por terceiros e que, no seu exclusivo proveito próprio, visava exactamente aquele resultado: a «conferência de imprensa» de Fátima Felgueiras.

Assim, em primeiro lugar, as televisões foram puramente manipuladas. Enredadas na suicidária cegueira concorrencial por elas próprias gerada, a manipulação contou com a capitulação pusilânime de todas - e ganhou.

O assunto justificava-o?

Nada há de misterioso na questão Fátima Felgueiras: um caso de corrupção, reles sob todos os aspectos, com denúncias anónimas, intrigas de campanário, parvoíces partidárias e uma fuga pacóvia. É tudo sórdido - e não vale a pena; é tudo conhecido - e notícia de pé de página.

A «conferência de imprensa» não adiantou nada de novo - pelo excelente motivo que nada de novo podia haver para adiantar. As redacções tinham absoluta obrigação de o saber. Em função disso, gerir meios, tempo, espaço, tratamento.

A história ensina que não saber avaliar a importância da notícia é o passo imediatamente anterior a inventá-la. E aí, acaba o jornalismo.